Dupla visão
Por Milena Mezalira e Tatiana Tramontina, acadêmicas do 6º nível do curso de Jornalismo da Universidade de Passo Fundo, disciplina de Técnica de Entrevista, orientada pela profª Fabiana Beltrami
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Doar sangue é um ato nobre que deveria ser seguido por todos. É necessário muita comunicação entre o doador e o profissional para que o caminho da doação corra o seu percurso natural corretamente. O Serviço de Hemoterapia do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) preza por essa comunicação que iniciou há sete anos e que hoje já envolve 62 colaboradores, trabalhando juntos em prol dos pacientes e doadores.
Trabalhar com o sangue e com a ideia de salvar vidas é muito gratificante para a enfermeira coordenadora da Doação de Transfusão Hospitalar e Ambulatorial, Luciana Bertelli Dagostini. “Não trabalhamos com números de doadores, com débitos e créditos, pois não somos um banco”, relembra ela no início da entrevista. “Caso o doador não esteja se sentindo preparado orientamos para que não doe. Liberamos e lembramos que ele não precisará mandar novos doadores no lugar dele”, explica ela. Para a equipe profissional do Serviço de Hemoterapia do HSVP o importante, na hora da doação, é que o paciente esteja à vontade e que chegue realmente com a intenção de doar. “É importante para nós mostrar ao paciente o quanto ele é importante. Se ele não estiver preparado naquele momento ele poderá voltar outra hora, quando se sentir melhor, estaremos esperando por ele”, orienta a enfermeira Luciana.
O Serviço de Hemoterapia do HSVP conta ainda com profissionais da área da assistência social, que trabalham na sensibilização dos doadores e, também, dos receptores, por meio de conversas e da entrega das “Pílulas do Bem”, mensagens de força dos doadores para os pacientes. Larissa Schons, assistente social, conta que, por acompanhar a rotina do doador e do paciente também, consegue ver os dois lados da moeda. “Gostaria muito que o doador tivesse a oportunidade de ver algum paciente recebendo o sangue, os olhos chegam a brilhar”, relembra ela. Para Larissa, o doador é tão importante quanto qualquer outro profissional do hospital. “Se não tivéssemos doadores, não teríamos como tratar os pacientes”, afirma ela.
Todo o caminho do doador dentro da Hemoterapia é acompanhado por algum profissional. Todos eles carregam a responsabilidade e a oportunidade de poder salvar vidas. A Dra. Cristiane Rodrigues de Araújo sabe muito bem o peso dessa responsabilidade. Responsável Técnica do Serviço de Hemoterapia do HSVP, “Cris”, como é conhecida pelo pessoal da Hemoterapia, acompanhou esse time de profissionais desde a inauguração, que se iniciou há sete anos. “Trabalhamos de forma humanizada, com abordagem educacional e profissionalismo em prol de nossos pacientes, doadores e colaboradores institucionais e parceira externas, como a UPF”, explica a Dra. Cristiane.
Cada doação é uma nova história que começa e, trabalhar em um local como esse, demanda muita comunicação, de diversas formas. Comunicação entre os profissionais da saúde com os doadores, comunicação entre doadores e pacientes e até comunicação entre um doador e outro. Sem comunicação os personagens se perdem e a história se confunde. Mesmo não estando presente fisicamente todos os dias com os doadores, Endil Mello, assessora de imprensa do Hospital São Vicente de Paulo, sabe da importância que eles têm para o Serviço de Hemoterapia. “Nós, da comunicação, não vemos tecnicamente o doador, não somos profissionais da área da saúde. Nós os vemos realmente como pessoas precisando de doação. A gente se coloca no lugar do outro, tem a empatia muito forte na nossa essência”, explica ela. Endil ainda comenta da importância que dão nas redes sociais para que a doação de sangue se torne um hábito. “A gente sempre fala isso tanto para a equipe da Hemoterapia quanto para os jornalistas que vem fazer matéria, a gente tem que se colocar no lugar do outro pra saber, só sentindo na pele pra você ver como é. Não custa nada a gente estender a mão ao próximo”, ressalta ela. A comunicadora ainda brinca que, por possuir menos peso que o ideal, e não poder doar, ajuda de outra forma. “Trabalho para que as outras pessoas que tem condições de doar doem, para que isso se torne um hábito”, enfatiza ela.
Mas e o doador? Qual é a visão dele?
Toda essa dedicação profissional reflete positivamente nos doadores. Para eles, os corredores têm cheiro de responsabilidade social e o lanche, que recebem no final de todas as etapas da doação, tem gostinho de dever cumprido. Jonathan Lauxen, doador, pratica esse ato desde os 18 anos. Curioso desde sempre, Jonathan lembra da primeira vez que doou. “Uma prima minha me convidou para doar e eu vim. Eu sou bem metido, fico perguntando sobre a máquina e todo mundo sempre me tratou muito bem. Quando fiz 18 anos aumentei de peso, fui para 51 kg e pude doar”, conta ele rindo. Depois que começou a trabalhar no hospital percebeu a grande demanda de sangue que era necessária diariamente e não parou mais de doar. “É bom ter a ideia de que estou ajudando alguém”, comenta ele.
Para Gabriela Cella, aluna do curso de Medicina da UPF, sua primeira doação foi bem tranquila. “Fui muito bem atendida pelos funcionários, foram muito atenciosos e preocupados com o bom andamento da minha doação e da minha saúde durante o processo todo”, relembra ela. Gabriela, que está no quinto nível da faculdade, acredita que explicar o funcionamento do processo é muito importante, principalmente para quem doa pela primeira vez. “Os profissionais do Serviço de Hemoterapia são muito dedicados ao bem estar do doador. São muito atenciosos e estão sempre dispostos a explicar o funcionamento do processo, sempre muito competentes com a seriedade dos procedimentos”, observa ela. A estudante da Faculdade de Medicina da UPF toca em um ponto importante no quesito doação: doar para um dia receber em troca. “É hipocrisia pensar que o sangue precisa estar disponível se um dia precisarmos se não colaborarmos com a nossa própria doação. Doar parte de si para o outro sem esperar retorno, somente com o desejo de auxílio, é uma atitude admirável”, salienta ela. Gabriela acredita ainda que doar sangue é um ato de solidariedade impagável e demonstra o quanto estamos dispostos a doar parte de nós mesmos para promover o bem estar do outro. “É uma ação de extrema importância”, afirma a estudante.
E se eu não puder doar? O que eu faço?
Muitas pessoas, seja por questão de peso ou por alguns tipos de doenças, como, por exemplo, anemia, não estão aptos a doar seu sangue. Mas, nem por isso, a pessoa pode deixar de ajudar àqueles que precisam. Assim como a assessora de imprensa do HSVP, Endil, não pode doar por conta do peso e ajuda por meio de campanhas e divulgações, você também pode ajudar os pacientes que necessitam da doação de outra forma. Conscientizar a população sobre a importância de doar sangue é um ato que precisa ser expandido e muito trabalhado ainda. Larissa, assistente social do Serviço de Hemoterapia do HSVP também não é apta para doação, mas nem por isso deixa de difundir a ideia entre os amigos e familiares. “Eu faço a captação aqui, mas não posso doar, pois tenho trombofilia. Mas eu ajudo mesmo assim por meio de campanhas. Ás vezes a pessoa não pode doar, mas se ela conseguir mobilizar e sensibilizar outras pessoas ela já estará ajudando e fazendo o seu trabalho social”, garante a assistente social.