A região faz a força

Por Luiz Carlos Medeiros e Pedro Borghetti,  acadêmicos do 6º nível  do curso de Jornalismo, disciplina de Técnica de Entrevista, orientada pela profª Fabiana Beltrami

Doadores de cerca de 300 municípios do RS são responsáveis pela maioria das doações ao Serviço de Hemoterapia do Hospital São Vicente de Paulo, de Passo Fundo.

Cerca de 1.200 coletas são realizadas mensalmente no local. Mesmo assim, o serviço necessita de doadores o ano inteiro

“Uma conhecida minha tem um parente que está precisando de sangue. Fiquei sabendo da situação e resolvi ajudar”. A simples atitude de Edson Bischoff, morador de Três Passos (há 230 km de Passo Fundo), representa uma ação comum dentro do Serviço de Hemoterapia do Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo (SHHSVP).

Edson Bischoff pretende doar sangue mais vezes (Foto: Pedro Borghetti)

De acordo com a assistente social do local, Larissa Schons, a maioria das doações realizadas são devido a uma cultura de necessidade de doação por parte de pessoas próximas, familiares ou amigos. “Normalmente, a família se comove e se mobiliza. São doadores de mais de 300 municípios que atendemos aqui. A maioria dos doadores não são de Passo Fundo”, comenta.

O local funciona desde o ano de 2011 em Passo Fundo e é composta por uma equipe multidisciplinar de especialistas em diversas áreas da saúde. Os hemocomponentes sanguíneos doados são usados em procedimentos de alta complexidade no próprio hospital, como cirurgias, transplantes e tratamentos contra doenças graves, atendendo crianças e adultos.

Apesar de morar em Passo Fundo há 2 anos, Denizar de Cal não é natural da capital do Planalto Médio. O engenheiro civil, natural de Vanini, comparece ao Serviço de Hemoterapia do hospital há cerca de 4 anos. “O pai de um amigo está precisando. Nas primeiras vezes que doei foi por necessidade de pessoas próximas. Depois foi por vontade pessoal mesmo”, relata.

Outro exemplo que ilustra essa situação é a história de Zula Verônica, habitante de Sagrada Família. A agricultora da cidade que fica a 123 km de Passo Fundo acompanhou sua mãe para uma consulta no Hospital São Vicente de Paulo. Enquanto estava aguardando o atendimento, ouviu a história de uma mulher que necessitava de sangue para um transplante de fígado. Sensibilizada pela história, Verônica aproveitou a proximidade do Serviço de Hemoterapia com o HSVP e realizou a doação pela primeira vez.

“Eu imaginava que iria ser difícil. Mas foi tudo tranquilo. Seria capaz de sair dançando após a doação. Eu aconselho muito todo mundo a doar”

- Zula Verônica, agricultora de Sagrada Família

Estrutura

Pelo fato do Serviço de Hemoterapia do HSVP não ser considerado um hemocentro, o local não atende hospitais da região (somente em exceções, como em acidentes graves que exigem grande demanda) e também não vai até as cidades da região coletar o sangue.

Segundo a  coordenadora do SHHSVP, Dra. Cristiane Rodrigues Araújo, grande parte da população confunde o Centro de Hemoterapia com um hemocentro. Os hemocentros são instituições públicas ou privadas que atuam no objetivo de fornecer sangue para hospitais, realizam atividades de hemoterapia e hematologia. Em Passo Fundo, o Hemocentro Regional, também conhecido como Hemopasso, atende pacientes e hospitais de toda a região, como banco de saúde. Enquanto o Serviço de Hemoterapia do HSVP tem o sangue doado destinado apenas para pacientes em atendimento no hospital. Apesar disso, de acordo com profissionais do SHHSVP, há uma confusão bastante comum em relação ao atendimento do local com os serviços prestados pelo Hemopasso.

Grande parcela dos pacientes são fidelizados com o local (Foto: Pedro Borghetti)

“A gente atende só para o Hospital São Vicente de Paulo. Nós não somos hemocentro. Nossa demanda é muito grande pelos casos mais complexos serem atendidos aqui”

- Larissa Schons, assistente social do SHHSVP

Essa necessidade pode ser explicada pela estrutura do HSVP, considerado o maior hospital macrorregional do interior gaúcho. Os casos de maior complexidade são trazidos para Passo Fundo, devido à falta de atendimentos dos hospitais da região para tratamento deste processos.

“Aqui a gente atende muitos pacientes em estado grave de saúde. Transplantes, cirurgias cardíacas, acidentes graves, pacientes que estão tratando câncer são tratados aqui”, comenta a assistente social.

Por isso, apesar do número total de 1.200 coletas realizadas mensalmente parecer suficiente, a principal necessidade do local é de manter doadores durante todo o ano. De acordo com os profissionais do serviço, a fidelização se faz necessária por alguns componentes do sangue possuírem data de validade.   No SHHVSP, em alguns momentos do ano em que a população se mobiliza, normalmente pela notícia de uma grande demanda, há procura de muitos doadores no local. Essa quantidade  é vista como necessária, mas de maneira mais distribuída durante os 12 meses do ano.

Durante todo o mês, cerca de 1.200 coletas são realizadas na unidade localizada no centro de Passo Fundo. Dentro da unidade, os doadores passam pela recepção, triagem, pré-hidratação e sala de coleta. Depois de realizar o processo, os doadores são encaminhados para uma sala onde realizam refeição, preenchem cadastro para ouvidoria e podem participar de campanhas do SHHSVP.

Preocupação do local é ter doadores durante todo o ano (Foto: Pedro Borghetti)

Se depois desta etapa os doadores são liberados, a equipe do local ainda possui muito serviço a realizar. O sangue passa por salas de controle, laboratório de processamento, controle de qualidade até então serem liberados para os pacientes necessitários do hospital.

O Serviço de Hemoterapia está localizado na Rua 15 de Novembro, 485, 5º andar e funciona das 8 às 15 horas. Para informações, o telefone para contato é (54) 3316-4098.