A população LGBT na comunicação brasileira – uma reflexão
No dia 28 de junho de 2019 a Revolta de Stonewall vive seu aniversário de 50 anos de história, um marco que representa a luta e o respeito aos LGBTs e o início do movimento de direitos e representatividade de todos. Em matéria feita pela Meio & Mensagem, o que aconteceu na cidade dos EUA é abordado a partir dos líderes da revolta e suas representatividades e, consequentemente de outros LGBT, em vários segmentos de anunciantes na mídia no Brasil.
Historicamente, no universo midiático brasileiro, a publicidade “no armário”, foi a que trouxe o esteriótipo homossexual afeminado e pejorativo, na metade da década de 1970. O comercial para a TV era de um sabão lava-louças, onde o ator Nuno Leal Maia, era o garoto propaganda. Nuno era considerado uma representatividade máscula para a época, apresentando isso nas novelas em que atuava. Já no comercial de 1976, ao final dele, torna sua voz e seus gestos mais afeminados, o que em tom de humor, é um dos primeiros comerciais que trata as questões de gênero e a homossexualidade de forma engraçada e pejorativa, de acordo com o pesquisador Jorge Leal.
Já na imprensa escrita as primeiras reflexões sobre a população LGBT e suas lutas, acontecem no jornal carioca Lampião da Esquina, fundado em 1978 e considerado o primeiro jornal homo-sexual brasileiro. Ele introduziu a reflexão sobre o sexo, a sociedade e os gêneros em 39 edições (contando a edição zero), que chegaram de 10 a 15 mil exemplares no Brasil. Suas pautas não eram só sobre as questões de gênero, mas também sobre as drogas, o aborto, questões políticas e sobre a luta contra a ditadura. Mas, também, tratavam de assuntos que diziam respeito às minorias e elas dentro do cotidiano social, ou seja, a população que não era pauta nem nem da direita e nem da esquerda.
Desde os primórdios do teatro, a dramaturgia separa tanto protagonistas, quanto personagens secundários, em grupos temáticos, compondo as personagens nos segmentos representativos da sociedade (a tela imita a vida), dando o recheio das histórias a serem contadas. Na televisão e no cinema é a mesma coisa – no início, reis rainhas, prefeitos, escravos, empregados, mocinhas e bandidos, eram representados; já ao longo do tempo as personagens que narram o cinema e a televisão, começam a contemplar personagens galgados em maior representatividade social. Assim, aprimorando a criação, e representatividade, de pessoas diversas, suas angústias, sofrimentos, mas também conquistas, em uma tentativa de mostrar os diversos gêneros sociais através de personagens específicos. Uma destas personagens é Vera-verão, interpretado por Jorge Luis Souza Lima – Jorge Lafond.
Jorge Lafond era transsexual e iniciou sua carreira no mundo artístico na década de 1970. Ao criar sua personagem Vera Verão para o programa do SBT, A Praça é Nossa, trouxe fortemente as características caricatas do universo LBT. Lafond atuou por dez anos neste programa com a mesma personagem, de 1992 a 2003. Mas será que a representação de um modo geral e desta personagem era vista como pejorativa ou não, para o público que a assistia na época? A partir do questionário realizado pelo acadêmico de Publicidade e Propaganda da Faculdade de Artes e Comunicação da UPF, Jean Carlos Decet, podemos fazer algumas leituras da representação da personagem Vera Verão na televisão, pelo público que a assistiu. A pesquisa foi feita de forma anônima via internet em maio de 2019. Dentre os respondentes tivemos 80 respostas, destas 13 pessoas com idades abaixo de 30 anos, 35 com idades entre 30 e 40 anos, 29 com idades acima de 40 e 3 optaram por não responder. Dentre estes, 22,1% foram do gênero feminino e 77% foram masculino. Dos respondentes, grande parte atua como professores ou estudantes, mas há uma parcela significativa de empresários, publicitários, arquitetos, comerciantes.relacionados a região 56 são católicos, 11 ateu, sem religião ou não praticantes, 3 espíritas, 2 evangélicos e 8 pessoas não responderam esta questão. A baixo vemos a escolaridade dos respondentes.
A maior parte dos respondentes se encontram na região norte do Rio Grande do Sul - Passo Fundo, Santo Antônio do Palma, Marau, Casca, Gentil, Erechim, Guaporé, Bento Gonçalves e 58 identificaram-se como brancos/caucasianos; 6 negros;13 morenos/pardos; 3 optaram por não responder.
A partir das informações a cima temos, de um modo geral, quem foram as pessoas que participaram da pesquisa, mas para aprofundar as questões, questionamos sobre racismo e homofobia. Dos respondentes 63,3% acham que o racismo exige e é discutido, 28,8% existe porém é ignorado, 7,8% existe, mas quem sofre exagera sobre a questão. Já sobre homofobia nos dias atuais – 58,4% concorda que existe e é discutida, 33,8%, existe porém as pessoas ignoram e 7,8% acham que existe, mas quem sofre por ser gay, trans, etc; exagera. Mas todos os respondentes acreditam que a representatividade é importante, porém 3% acreditam que negros, homossexuais e mulheres não podem ocupar os mesmos espaços que brancos, heterossexuais e homens. Já referente ao nosso questionamento sobre o LGBT na televisão brasileira e sobre a personagem de Vera Verão, 98% dos respondentes assistiam a programas de humor entre as décadas de 1980 e 90 e 96% lembram da Vera Verão. Ao questionarmos se os que assistiam a personagem a achavam engraçada, 86,5% concordaram que sim, ao contrário dos 13,5% que responderam não. Sobre a personagem ser ridicularizada a porcentagem é quase a mesma da pergunta anterior, onde 87,8% a achavam ridicularizada ou de mal gosto e 12, 2% não.
Apenas 50 anos nos separam da luta oficial da população LGBTQ+, 40 anos do início de uma imprensa segmentada LGBT e quase 70 anos nos separam da televisão brasileira (equipamento inovador na época) dos nossos dias. Neste meio tempo, a partir do que vimos aqui, o que você lembra, vê, pensa, sobre este universo? Se é preconceituoso? Homofóbico? Isto está na televisão atualmente? Você saberia dizer, pra você mesmx?